quinta-feira, 29 de março de 2007

(a seguir, algumas palavras sobre insegurança e cobrança. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência)

Não adianta insistir, eu não estou preparada!

Não, não quero. Ou melhor, não sei. Resumindo, não posso.

Não estou preparada, já disse! Não estou preparada para isso, para aquilo ali e muito menos para aquilo acolá. Nem precisa me falar o que é! Ainda não estou pronta para nada. Preciso estudar. Preciso me arrumar. Preciso consultar uma taróloga!

Não exija muito de mim. Eu ainda estou aprendendo as regras de pontuação, a alimentar-me direito, a dançar sem pisar no pé dos outros, a tirar fotos, a passar prancha nos cabelos, a combinar sapato e bolsa, a fazer o comentário correto na hora certa, a deixar alguém me amar. Estou estudando a vida. Pisando devagar para não tropeçar.

Por favor, deixe-me seguir meu ritmo. Posso tirar os sapatos um pouco? Ás vezes não sinto os meus dedos. Posso morder a barra da blusa? Deixa-me chorar no banheiro? Depois eu prometo voltar ao normal. Ao normal de óculos. Ao normal de calça social preta. Ao normal de sapato scarpin.

Eu estou bem. Desculpa ter sumido, não ter ligado, mandado e-mails, deixado recado no Orkut. Mas entenda, a dor no ombro está terrível (sabe como é, muitas horas em frente ao computador). Ei, como assim isso não é explicação?! Está vendo, sabia que você não ia entender! Deixa para lá.

Aproveita e deixa para lá aquela proposta também. Seja ela qual for. Eu não estou preparada mesmo. Não sei se é um convite, uma convocação, uma sugestão, um lembrete...Só sei que não quero. Não sei. Não consigo.

Eu preciso de bússola, mapa, dicionário, band aid, miojo, coca light, analgésico, toalha, meias e casaco. Não posso andar por aí assim, ao léu.

Não, não vou improvisar. Avise-me com antecedência. Faça um planejamento numa planilha do Excel, imprima e entregue em mãos num envelope lacrado. Mas não fique chateado se eu rasgar o tal envelope. Eu já disse que não estou pronta. Não agora. Não para isso. E nem precisa me dizer o que é!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Uma tese é uma tese

MARIO PRATA
Quarta-feira, 7 de outubro de 1998 CADERNO 2


Sabe tese, de faculdade? Aquela que defendem? Com unhas e dentes? É dessa tese que eu estou falando. Você deve conhecer pelo menos uma pessoa que já defendeu uma tese. Ou esteja defendendo. Sim, uma tese é defendida. Ela é feita para ser atacada pela banca, que são aquelas pessoas que gostam de botar banca.

As teses são todas maravilhosas. Em tese. Você acompanha uma pessoa meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem até teses pós-morte.

O mais interessante na tese é que, quando nos contam, são maravilhosas, intrigantes. A gente fica curiosa, acompanha o sofrimento do autor, anos a fio. Aí ele publica, te dá uma cópia e é sempre - sempre - uma decepção. Em tese. Impossível ler uma tese de cabo a rabo.

São chatíssimas. É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o julgamento da banca circunspecta, sisuda e compenetrada em si mesma. E nós?

Sim, porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes, as pessoas são inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese fica no rodapé da história. Pra que tanto sic e tanto apud? Sic me lembra o Pasquim e apud não parece candidato do PFL para vereador? Apud Neto.

Escrever uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se autodecreta. O mundo pára, o dinheiro entra apertado, os filhos são abandonados, o marido que se vire. Estou acabando a tese. Essa frase significa que a pessoa vai sair do mundo. Não por alguns dias, mas anos. Tem gente que nunca mais volta.

E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os profissionais, em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir à defesa. Meu Deus, que sono. Não em tese, na prática mesmo.

Orientados e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar que toda tese tem de ser - tem de ser! - daquele jeito. É pra não entender, mesmo. Tem de ser formatada assim. Que na Sorbonne é assim, que em Coimbra também. Na Sorbonne, desde 1257. Em Coimbra, mais moderna, desde 1290. Em tese (e na prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática.

Acho que, nas teses, tinha de ter uma norma em que, além da tese, o elemento teria de fazer também uma tesão (tese grande). Ou seja, uma versão para nós, pobres teóricos ignorantes que não votamos no Apud Neto.

Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto que nos interessa e nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto aquilo, acho impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões chegou. Mas jamais saberemos onde fica o bicho da goiaba quando não é tempo de goiaba. No bolso do Apud Neto?

Tem gente que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar a tese. Vão lá nas fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica sabendo de nada. Só aqueles sisudos da banca. E o cara dá logo um dez com louvor. Louvor para quem? Que exaltação, que encômio é isso?

E tem mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza. Tem viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida, separações, pensão para os filhos que a mulher levou embora. É, defender uma tese é mesmo um voto de pobreza, já diria São Francisco de Assis. Em tese.

Tenho um casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses. Cada um, uma. Dia desses a filha, de 10 anos, no café da manhã, ameaçou:

- Não vou mais estudar! Não vou mais na escola.

Os dois pararam - momentaneamente - de pensar nas teses.

- O quê? Pirou?

- Quero estudar mais, não. Olha vocês dois. Não fazem mais nada na vida. É só a tese, a tese, a tese. Não pode comprar bicicleta por causa da tese. A gente não pode ir para a praia por causa da tese. Tudo é pra quando acabar a tese. Até trocar o pano do sofá. Se eu estudar vou acabar numa tese. Quero estudar mais, não. Não me deixam nem mexer mais no computador. Vocês acham mesmo que eu vou deletar a tese de vocês?

Pensando bem, até que não é uma má idéia!

Quando é que alguém vai ter a prática idéia de escrever uma tese sobre a tese? Ou uma outra sobre a vida nos rodapés da história?

Acho que seria uma tesão.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Desanimação

Não quero mais escrever.

Não sei usar a vírgula.
Não sei escrever textos engraçadinhos (blogs legais têm textos engraçadinhos).
Não li nenhum livro supimpa que mereça comentário.
Não me considero capaz de escrever sobre qualquer filme bacana que tenha visto.
Não acontenceu nada de sensacional na minha vida.

Está tudo normal por aqui.

Mas po'deixar: se eu vir uma nave espacial, escreverei.