quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Senhoras e senhores,

Veio por meio desta mensagem informar que a responsável por este blog está absolutamente sem tempo, sem criatividade e sem vontade para escrever e publicar novos textos. Em face do exposto, por enquanto, não será possível se falar mais nisso, naquilo, nem naquilo outro. Neste período, serão oferecidos o silêncio e o vazio a título de compensação.

Com a esperança de que a situação seja passageira, certa da compreensão dos dois leitores, e aproveitando o ensejo para renovar as cordiais saudações,

Gabriela Mendes.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Explicando (mais uma vez)

Já disse, mas nunca é demais repetir, que eu (e muita gente melhor do que eu) acho a palavra a invenção mais genial feita pelo homem (pelo ser humano, eu sei, feministas de plantão!). Não adianta virem me dizer que uma imagem vale mil palavras porque logo peço humildemente: "Diz isso sem palavras".

Aproveito o ensejo (!) pra explicar aos mais atrasadinhos que, ao contrário do que pensam grandes eruditos, a palavra não é gerada, nem foi criada, no córtice cerebral, que o vulgo chama de massa cinzenta. O córtice cerebral é que foi criado pela palavra. A ânsia do ser humano (eu sei, machista de plantão, o homem) se exprimir, de, por exemplo, transmitir a outro ser humano que tinha visto um negócio explodindo em fogo vindo do céu: "Rá Rá iii!", criou no breve período de um milhão de anos, a palavra raio.

Daí ao cognitivo da anomia foi um passo (não adianta o leitor tentar entender o que pretendo dizer com isso, estou só imitando os eruditos).

Por esse meu culto da palavra é que aproveito qualquer oportunidade pra sacanear qualquer pretensão de não só pretender dominar sua substância e uso, mas sequer supor que isso pode ser feito. E, maldição!, semanticamente está provado que só podemos proibir o que podemos nomear, denominar. Enquanto não havia a palavra mãe, pai, filho, filha, não havia incesto.

Millôr Fernandes
*copiado daqui

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Esperando 2007 com a família

Começa cedo. Às 20h, a gente se entope de comida. É a tradição do último jantar em família do ano. Na verdade, é o segundo (o primeiro é o do Natal) e o último. Nos outros 363 dias, quase não comemos em casa e, quando comemos, cada um pega seu prato e leva para seu local preferido (no meu caso, o sofá da sala). Às 21h e tal, com o fim do jantar (bem estendido com várias sobremesas), penso que é melhor pegar uma latinha de cerveja. Bem, aqui cabe uma explicação. À tarde, no supermercado, quando estava procurando um biscoito doce, decidi comprar três latinhas (para mim). Talvez eu tenha sido influenciada pelas dezenas de pessoas que entravam na fila com vários engradados. O fato (que não é fato, é claro) é que eu me senti meio obrigada a beber, afinal, é a festa da virada (de ano e de copo). Beber uma latinha (que devia durar pelo menos uns 15 minutos) ao lado da sua avó de 80 anos que está assistindo ao Show da Virada na Globo não é lá muita coisa, mas é festa no apê, canta o Latino na TV. Às 22h e alguma coisa, o jantar começa a “embrulhar meu estômago”. O tempo parece não passar, e se torna uma tortura ver Calipso, Babado Novo e Zezé de Camargo e Luciano. Resolvo mudar a estação. Paro no Multishow, que está passando clipes antigos. The Police, James Brown e Queen caem melhor, mas a minha mãe diz que é velharia e a minha avó pergunta por que eles estão cantando enrolado. Lá para as 23h, começa um bate-boca entre a minha mãe e a minha avó sobre as simpatias: são sete ou 12 uvas que devem ser comidas na virada? Eu penso que devia ter comprado sete ou 12 latinhas. Faltando 20 minutos para o novo ano entrar, eu consigo o controle da TV again. Ninguém está ligando muito para isso: minha avó está olhando pela janela as pessoas indo para a praia, minha mãe dormiu no sofá e minha irmã está no computador (ou falando com o namorado pelo telefone). Meus familiares estão tão distraídos que nem percebem que faltam poucos minutos. Mudo de canal. A Globo está mostrando praias, avenidas, pessoas com cara de bobas olhando para o céu (esperando a explosão dos fogos). A jornalista não fecha a matraca. Fala sobre a violência e o desejo de paz, sobre a união dos povos, sobre a chuva que não afastou os dois milhões da praia, sobre a queima de fogos inovadora que vai ter em Florianópolis etc. (muito etcétera mesmo). Quando eu penso que o ano não vai entrar nunca, começa uma apressada contagem regressiva. E o ano rompe. Assim, do nada. Pipocam os fogos. Da minha janela, dá para ver a queima do Flamengo (que, vale dizer, dura mais que a de Copacabana). Mas eu não vejo nada. Estou preocupada em pisar com o pé direito (eu sempre erro!), comer uma colher de arroz com lentilha, beber a taça de sidra barata e comer as sete uvas, separando os caroços que devem ser guardados (eu engoli três, o que espero que não tenha atrapalhado a simpatia). Minha mãe começa o famoso discurso anti-fogos de artifício (“o dinheiro que se gasta nesta besteira”, “os animais e os bebês não entendem o que está acontecendo, é uma maldade”), enquanto a minha cachorrinha treme como vara verde (eu nunca vi vara verde tremer, mas a expressão é boa). Em minutos, tudo se acaba. Minha avó vai para a casa, minha irmã sai com o namorado (que chegou um pouco depois) para dar o primeiro passeio do ano e a minha mãe vai dormir. Eu me sento no computador, dou uma olhada rápida no Orkut e na minha caixa de e-mail. Depois, vou para o quarto ouvir o CD do Blur. Começou um novo ano. Mas não parece.